Depois de permanecer duas décadas em completo silêncio, o estoquista Flavio Fermiano Fidelis, de 53 anos, voltou a ouvir. A conquista foi possível graças a uma ação judicial movida pela Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Sul (DPE/RS), que teve início ainda em 2016. Ela garantiu a realização de um implante auditivo de tronco cerebral – cirurgia inédita no Estado, realizada no Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre.

O morador de Torres foi diagnosticado com neurofibromatose do tipo 2, uma doença genética que causa tumores nos ouvidos e compromete o nervo auditivo. Fidelis não podia ser beneficiado com o uso de aparelhos auditivos convencionais nem com o implante coclear. O implante de tronco cerebral, indicado apenas em casos específicos como o dele, era a única alternativa de reabilitação auditiva. Contudo, o procedimento não era oferecido pelo SUS e nem incluído no rol de coberturas obrigatórias do plano de saúde.

Diante da negativa de acesso ao tratamento, a Defensoria Pública ajuizou ação para garantir que o Estado e o Município de Torres arcassem com os custos da cirurgia. A sentença favorável veio quase uma década depois. “Quando ingressamos com a ação, a cirurgia era feita apenas em São Paulo e esse era o nosso objetivo. No decorrer do processo felizmente surgiu a possibilidade de fazer em Porto Alegre”, explica o defensor público Nelito Celso Villetti.

A operação ocorreu em Porto Alegre, com o apoio de especialistas de São Paulo. Ela foi realizada em duas etapas – no ano passado e no início de 2025. Há dois meses, o implante foi ativado com sucesso e Fidelis, que é surdo oralizado e se comunica por leitura labial, agora também consegue captar sons e compreender frases, ampliando sua autonomia e segurança no dia a dia.